Sistema Intergado foi instalado em propriedade de Brasilândia para avaliar eficiência alimentar do rebanho
Buscar sempre os melhores animais, com as principais características de produção fixadas em seu genoma, é um dos grandes objetivos da HoRa Höfig Ramos. Hoje, a eficiência alimentar é a característica econômica mais importante e procurada pelos produtores de carne. Produzir mais com menos custos significa maior rendimento final para o pecuarista. Por isso, a HoRa instalou o sistema Intergado na fazenda Nossa Senhora de Fátima, em Brasilândia (MS), e começou a fazer, no último dia 14 de setembro, o seu primeiro teste de Consumo Alimentar Residual (CAR). Nessa primeira prova, estão sendo avaliadas 170 fêmeas PO com idades inferiores a 12 meses. Os primeiros resultados devem sair em meados de dezembro.
Segundo o doutorando em Zootecnia e responsável pelo teste, Adriano Crozara, colaborador do projeto de pesquisa de caracterização e seleção genética para eficiência alimentar da Embrapa Cerrados da Embrapa Cerrados, o teste visa avaliar tanto animais PO quanto os animais cara-limpa (CL) da Genética Podium - a genética que está sendo trabalhada na HoRa para melhor produção de carne Nelore. Os dados adquiridos serão trabalhados junto da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), buscando melhorar as Diferenças Esperadas nas Progênies (DEPs) e as acurácias destas. “As avaliações de eficiência alimentar podem ser feitas tanto em machos como em fêmeas, e as instalações construídas na HoRa permitem avaliar cerca de 800 animais por ano”, explica. A partir do ano que vem, segundo ele, a ideia é avaliar principalmente os machos podendo, com eles, predizer a eficiência das filhas, que serão as futuras matrizes.
O CAR, de acordo com Crozara, é a melhor opção para medir a eficiência alimentar do rebanho. “Diferente da conversão alimentar, que é a mais usada atualmente, o CAR trata da diferença do consumo da matéria seca estimada - que é aquilo que eu acredito que o animal vai consumir - e o observado, que é o que realmente o animal está consumindo. Isso em função do peso vivo médio metabólico e ganho de peso”, diz. Segundo ele, somente é possível ser feito medindo individualmente o consumo dos animais, naquele determinado lote, que deve ser homogêneo.
“O grupo de animais avaliados tem que ser o mais semelhante possível, mesmo sexo e contemporâneos, que venham de uma mesma alimentação e mesma época de desmame. Isso permite um resultado mais confiável para identificar os animais mais eficientes. Quanto mais esses animais foram próximos, melhor o resultado que teremos”, explica.
A alimentação dos animais em teste, na HoRa, simula um pasto de boa qualidade. “Isso é necessário porque a pecuária brasileira ainda é predominantemente extensiva. Vamos fornecer uma condição alimentar que se assemelha a um bom pasto. Então, em tese, espera-se que o animal que tiver um bom desempenho no teste de eficiência alimentar será um animal de melhor eficiência a pasto”, avalia o zootecnista.
Para medir o consumo individual dos animais, há duas opções. A primeira é separar o animal em baia individual e, dessa forma, fazer pesagem do que foi fornecido para ele e, depois, a pesagem do que sobrou; o resultado é o quanto esse animal consumiu. A segunda opção é o sistema tecnificado, como o Intergado, de tecnologia brasileira, onde se coloca os animais em conjunto e, através da leitura dos brincos eletrônicos do sistema, mensura-se o consumo desses animais cada vez que eles vão ao cocho. “As instalações permitem que apenas um animal acesse o cocho por vez. Através do brinco, envia-se por RFID (identificação por radiofreqüência) a informação de consumo para a plataforma on line. Além disso, o Intergado tem uma vantagem que é informação de peso. Para o animal consumir água, ele tem que subir numa balança corporal, que é acionada pelo brinco. Isso permite acompanhar a evolução do ganho de peso”, diz.
O produtor pode acessar diariamente essa plataforma e gerar gráficos sobre o ganho de peso, consumo, conversão e outras diversas informações diferentes como, por exemplo, quantas vezes o animal visitou um cocho, quantos cochos o animal visitou, que horário ele consumiu. “No sistema, é possível observar inclusive a dominância: quais animais chegam primeiro no cocho. Interessante é que os animais geralmente respeitam o mesmo horário de consumo. A partir dos resultados vou ter as duas variáveis fundamentais, consumo e ganho em peso, para obter meu valor de CAR, que é a informação que eu quero”, explica.
Ultrassonografia complementa prova
De acordo com Adriano Crozara, somente com as informações de peso e consumo é possível gerar a CAR. “Porém, na HoRa, estamos acrescentando informações geradas por ultrassonografia. O animal está consumindo e está ganhando peso, mas para onde está indo esse peso? Vira gordura? Crescimento muscular? O ultrassom corrige o resultado do CAR ao me indicar isso, fornecendo uma informação mais acurada”, afirma.
“Em âmbito nacional, os testes de eficiência alimentar começaram a ganhar força no Brasil por volta de 2004, mas em sistema manual. Segundo o zootecnista, o primeiro sistema automatizado foi trazido em 2011, de tecnologia canadense, e instalado em uma fazenda em Uberaba, que é referência hoje em touros eficientes. Já o sistema Intergado vem sendo desenvolvido desde 2009 e começou a ser comercializado em 2013. “O Núcleo Regional da Embrapa Cerrados, situado em Santo Antônio de Goiás (GO), usa esse sistema e já está conduzindo a quinta prova de eficiência alimentar”, diz.
Crozara explica que a decisão da HoRa em implantar o sistema complementa o projeto de seleção genética que vem sendo desenvolvido, direcionando animais desde o acasalamento até a preocupação com a qualidade de carne do animal abatido “A HoRa quer produzir animais que tenham qualidade de carne, incluindo aí a maciez, e grande rendimento de carcaça. Então, somada com a seleção de animais para ganho de peso, reprodução, temperamento, racial, biotipo e outros fatores, porque não avaliar a eficiência alimentar, que é muito importante e valorizada pelo mercado?”, justifica.
Segundo ele, hoje, os grandes produtores de touros já estão investindo nessa tecnologia, mas não é comum ter o sistema dentro das fazendas. “A maioria transporta os animais para instituições prestadoras do serviço, como a Embrapa Cerrados. E quem faz isso recebe informações valiosas que valorizam o reprodutor ou a matriz”, garante.
Animais melhoradores
Por cerca de 30 anos, a HoRa utilizou touros produzidos por sua fazenda de Nelore PO com objetivo de melhorar o próprio rebanho comercial. Dessa forma, sobravam poucos touros para serem disponibilizados ao mercado. “Agora começa uma nova fase, voltada a disponibilizar toda a genética que foi aprimorada durante esses anos”, diz José Roberto Höfig Ramos. O programa Genética Podium, lançado recentemente pela HoRa, sob os cuidados o doutor em Melhoramento Genético e pesquisador da Embrapa Cerrados e ANCP, Cláudio Magnabosco, introduz a genética de precisão no rebanho cara-limpa para produção de matrizes e reprodutores de grande eficiência para melhorar os sistemas de produção da carne no Brasil, 85% produzidas a pasto.
“O animal melhorador é aquele que se destaca no lote em todos os índices de produção. A utilização e multiplicação desse animal gera hoje um rebanho que consegue abate muito jovem, com qualidade de carne muito boa”, afirma José Roberto. Segundo ele, o que o pecuarista procura é o retorno financeiro, é o giro rápido com carne de qualidade. É isso que temos que pensar e é isso que a HoRa está buscando”, explica. O compromisso da HoRa em produzir genética Nelore sustentável é a marca de seu trabalho e de seus desafios para a produção da carne Nelore brasileira.